domingo, 14 de junho de 2015

Viajar sozinha pela primeira vez e com pouco dinheiro: como não desistir.


No início deste ano eu estava bastante decidida a fazer uma super viagem: Croácia, Hungria, Alemanha e Polônia - comecei a estudar alemão e estava pura empolgação. Os destinos dentro dos países não estavam muito certos, mas eu queria muito ir a esses quatro.
Entretanto, ao longo do ano, uma série de eventos fez com que eu tivesse de reconsiderar minha linda utopia: os custos eram altos; meu orçamento já apertado ficou ainda mais apertado e eu viajaria pela primeira vez sozinha.

Era frustrante pesquisar semanalmente e não encontrar nada que se adequasse - ainda mais quando se fala tanto sobre promoções, sobre como dá para viajar com pouco dinheiro e sobre diversos mochilões por todos os lugares imagináveis e inimagináveis gastando "pouco". 
Decidi então escrever sobre o inverso: sobre como pode ser difícil viajar sozinho quando você ainda não teve aquela primeira vez encorajadora.

Eu tenho zero experiência em viagem desacompanhada e prezo pelo caminho mais seguro, então tive de levar em consideração alguns itens:
  • O idioma: sim, a maioria dos lugares tem o inglês como segunda língua, mas até que ponto valeria o risco de não saber lidar com a primeira língua dos países de destino? Nunca esqueço de que fui à Starbucks em Paris e o atendente falava basicamente zero inglês. Não se pode generalizar, mas na minha concepção, não vale a pena correr o risco de não conseguir se virar por ser pego de surpresa devido à barreiras idiomáticas. Imagina parar na estação errada e se ver rodeado de placas com símbolos ou palavras com tantas consoantes que você nem imagina como se pronuncia? É claro que dá para sair dessa, mas o melhor é não entrar nessa. Se você conhece alguém que já foi ao país de língua peculiar e que lhe garante que o inglês é suficiente, é outra história - vai fundo! Se não, vale pesquisar antes de se aventurar.
  • A segurança: por mais que nos achemos super descolados, nós temos, sim, cara de turistas, jeito de turistas, sotaque de turistas. Sozinhos temos de ter cuidado redobrado porque é muito mais fácil ser vítima de pessoas mal intencionadas - que existem em todos os lugares; não devemos nos iludir acreditando no contrário;
  • A imigração: nas vezes que viajei foi consideravelmente tranquilo passar pelas imigrações, mas assim como há uma série de relatos positivos sobre viagens bem sucedidas, também há relatos de pessoas que passaram maus bocados. Uma pessoa jovem, viajando sozinha, gera maior desconfiança da imigração do que um grupo de pessoas. A questão é que para evitar problemas, é aconselhável que quem viaja sozinho tenha os vouchers da hospedagem, os comprovantes de pagamento, passagem de volta comprada, e muitas vezes uma quantidade mínima de dinheiro que não é pequena (na Espanha, por exemplo, essa quantidade é 550 euros - cerca de R$ 2.000,00). Isso faz com que a viagem tenha de ser muito bem planejada - datas, hospedagens, chegadas e partidas. Promoções da RyanAir e da EasyJet podem ser inviabilizadas dependendo do tempo que a pessoa tem para se organizar e pesquisar os melhores preços;
  • A hospedagem: esse item é bem pessoal. Pode ser muito mais conveniente a pessoa ficar em um hostel, em que pode fazer amizade com os hóspedes ou pode ser que a pessoa se sinta mais confortável em ficar em um hotel ou bed and breakfast por se sentir mais  à vontade e segura sozinha no quarto. Considero este o item mais tranquilo porque atualmente temos muitas ferramentas que nos permitem avaliar o local em que vamos nos instalar no país de destino - e de mais a mais, o hotel ou hostel é o lugar em que passamos menos tempo quando viajamos. Ainda assim, tem toda aquela coisa de ficar atento à bagagem quando se compartilha o quarto (o que na verdade, se aplica também para quando você está com amigos e compartilhando o quarto com estranhos). No meu caso, porém, a hospedagem era peça chave porque minha mãe bizarramente se sente mais tranquila quando garanto que vou ficar em um lugar que ela considera bom;
  • Os preços: toda viagem para uma só pessoa é mais cara do que para duas pessoas. Não faz muito sentido, mas é assim que é.
  • Não ter com quem comentar sobre a viagem: esse item me deixava meio preocupada e frustrada, mas é uma coisa ruim que pode ser boa. Estar sozinho pode fazer com que você faça amizades que não seriam tão essenciais/importantes se você tivesse em um grupo de amigos.
Uma coisa era certa, em meio a isso tudo: viajar no fim de 2015 era algo de que não abriria mão de forma alguma. 
Então eu fui a agências de viagem entender o que era possível fazer e quais das minhas preocupações eram verdadeiras.

Para conseguir um retorno de acordo com as minhas expectativas, deixei bastante claras as condicionantes ao plano de viagem:
  1. Quanto eu poderia gastar, incluindo as despesas no local;
  2. Quando eu poderia viajar: só depois do dia 27/11;
  3. Quanto tempo eu gostaria de passar no local: no mínimo dez dias, no máximo 19 (não, não teria dinheiro para todos esses dias);
  4. Para onde eu gostaria de ir: diante das condicionantes, estava bastante aberta aos destinos, mas daria preferência a lugares frios;
  5. Como seria "interessante"  (isso no ponto de vista da minha mãe, naturalmente) eu viajar: teoricamente, viagem com guia ou com outras pessoas, já que dessa vez seria eu e eu em um lugar desconhecido.

Fui a três agências, ao todo:
Agência 1: zero retorno
Agência 2: retorno em dois dias úteis com opções acima do meu orçamento e, posteriormente, opções dentro do orçamento, mas com menos dias de viagem.
Agência 3: retorno no dia útil seguinte à minha visita com QUATRO lindas opções de viagem. Seguem:

1) Diversas cidades em Portugal e na Espanha (11 noites), com uma excursão: teria muitas pessoas comigo, viajaria no frio, estava dentro do orçamento, mas - como confirmei com a agente - seria uma viagem "panorâmica" e eu passaria um bom tempo dentro do ônibus (muito mais do que nas cidades listadas). Eu gosto de sentir as cidades; o ritmo do lugar; o cotidiano. Essa opção foi descartada;

2) Chile: Santiago - Vina Del Mar e Valparaíso (8 noites): dentro do orçamento. Não haveria pessoas comigo e seria verão. Estaria quente. Bem quente. Eu odeio calor. Essa opção foi descartada;

3) Uruguai: Colonia do Sacramento, Montevidéu e Punta Del Este (11 noites): idem acima. Essa opção foi descartada;

4) Península Ibérica: Lisboa, Madri e Barcelona (11 noites) - possibilidade de acréscimo de passeios sem sair do orçamento: dentro do orçamento. Frio. Bom período de viagem. Viajar sozinha, mas podendo conhecer pessoas nos passeios. Minha mãe achou ótimos os hotéis (sim, a opinião da minha mãe importa). Cidades com bom transporte público. Temos uma escolhida. Depois conto para vocês o que já tenho planejado (porque faz só uma semana que decidi e ainda não terminei meu planejamento de Lisboa).

Se você está com "pouco" dinheiro: saiba que as opções acima são possíveis.


Diante de tudo isso, acredito que para se manter firme e viajar sozinho pela primeira vez:
  • É fundamental entender quais são as suas inseguranças com relação à viagem e verificar quais delas são passíveis de serem dribladas - orçamento, idioma, hospedagem, meio de transporte entre cidades, etc;
  • É essencial saber quais são as suas condicionantes para decidir quais as viagens possíveis e qual, dentre elas, você vai conseguir fazer sozinho;
  • É importante saber o que você gosta e o que você não gosta de fazer. Se estas coisas não estiverem claras para você, é possível que fique de mal humor durante toda a viagem ou passe os dias se arrependendo de ter escolhido sem pensar se a opção escolhida realmente lhe agradava;
  • É interessante conversar com pessoas que estiveram nos lugares que você pensa em ir para pegar dicas. Não se deixe levar pelas opiniões, entretanto. Às vezes o que é ruim para os outros pode ser ótimo para você e vice-versa. Pesquise, leia várias opiniões;
  • É muito bom ter o auxílio de uma pessoa que lida diariamente com o mundo das viagens - no meu caso, a agente de viagens ajudou muito a decidir qual das opções se encaixava realmente em meu perfil;
  • Pesquise sobre o lugar que você pretende visitar. É provável que você fique muito empolgado e se sinta mais corajoso para lidar com qualquer possível dificuldade que passou pela sua cabeça;
  • Existem muitos passeios (city tours) que te permitem conhecer os pontos turísticos principais das cidades e ter uma compreensão geográfica inicial do lugar em que você está. Fica mais fácil se localizar quando você já sabe que aquela estátua fica perto daquela praça que fica perto daquela saída de metrô a 100m do seu hostel/hotel;
  • A internet tem milhares de informações que te permitem entender o chão que você vai pisar. Pesquisar os locais que você quer visitar, situá-los geograficamente  e mensurar as distâncias com relação a onde você estará hospedado pode ajudar muito a você se sentir mais seguro para sair andando pele cidade. Marcar o itinerário no Google Earth ajuda inclusive a decidir o meio de transporte ideal.
Espero que esse post ajude algumas pessoas.
Não há problema nenhum em ficar apreensivo e não ter espírito aventureiro para fazer um mochilão na sua primeira viagem sozinho. Não há problema em não achar que tudo é fácil e simples. Há problema, sim, em se deixar levar por essas inseguranças e, por causa delas, não viajar. Vá pela opção mais segura, mas não deixe de ir.


2 comentários:

  1. Nossa, essa viagem vai ser linda, tenho certeza.
    E viajar sozinha, além de te permitir fazer novos amigos também deve ser bom pra auto-conhecimento. É uma experiência que todo mundo deveria ter uma vez na vida.
    Apesar de já ter mais ou menos feito isso no intercâmbio ainda quero fazer uma mais ou menos nesse estilo que vais fazer :D

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    1. Sim! Também acho isso.
      Acredito que vá ser uma experiência muito importante para mim. :D

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